O ano de 2017 ficará marcado para sempre como o pior ano da história de
Portugal ao nível do número de colmeias perdidas e pastagem para as abelhas que foi
consumida pelo fogo, tendo havido inclusive a morte de apicultores a salvar
colmeias.
As alterações climáticas são reais e têm
dado provas disso, sendo os apicultores os primeiros a senti-las, pois
trabalham com insectos que reagem a factores ambientais que passam
desapercebidos ao Homem, sendo cada vez mais difícil manter as abelhas vivas.
Os anos são cada vez mais instáveis ao nível meteorológico, afectando directamente
as florações e estabilidade das colónias de abelhas, onde, ao contrário de
antigamente, em vez de termos maus anos de produção pontualmente, começamos a
ter maus anos regularmente.
Junto com todos os problemas directos e indirectos
das alterações climáticas, temos o aumento do número de incêndios florestais de
grande dimensão (acima de 100 hectares), incêndios que provocam a perca total
de pastagem para as abelhas, reduzindo a diversidade floral se os mesmos
tiverem uma elevada recorrência (período de tempo que voltará a mesma área a
ser consumida pelo fogo).
Foto: Afonso Correia |
Não sendo económica e ecologicamente possível manter as abelhas vivas com
recurso a alimentação artificial, é tempo de nós apicultores passarmos a ter
uma postura interventiva na gestão do território.
Não podemos continuar a ser meros utilizadores do território, passando desapercebidos
a tudo e todos.
Além de um esforço em aprender a
lidar com os incêndios, minimizando o risco das colmeias arderem, limpando uma
faixa de pelo menos 10 a 20 metros em redor das colmeias (dependendo do tipo de
vegetação, altura e carga combustível da mesma), havendo mesmo assim alguns
casos mais extremos que temos mesmo de lavrar a terra em redor, temos também de
nos expor e impor perante a sociedade.
Para isso, será importante no futuro, os
apicultores fazerem parte dos grupos de trabalho com intervenção directa no
território, apresentando propostas de gestão em complemento das que são
apresentadas por outros sectores (ex. exploração florestal, conservação da
natureza, etc.), favorecendo desta maneira o equilíbrio e manutenção das
colónias de abelhas.
Foto: António Leitão |
Uma vez que a apicultura é o parente pobre da agricultura, não será uma tarefa
fácil, contudo, se não formos nós próprios a lutar por isso, nunca será possível
darmos o nosso contributo para que o sector apícola seja visto como um sector
importante para a sociedade em geral.
João Tomé
...um apicultor pela apicultura...
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