Apis mellifera
iberiensis
A abelha Apis mellifera
é um insecto selvagem, que nós Humanos, apenas cuidamos e nos limitamos a
fornecer uma casa artificial de forma a termos um acesso fácil aos seus
recursos, como é o caso do mel.
As abelhas através da enxameação podem a qualquer momento
abandonar a casa que lhe fornecemos e encontrar outra em plena natureza. É
importante reconhecermos as abelhas como animais selvagens e não domésticos.
Segundo diversos estudos genéticos, inclusivamente alguns
bastante recentes, a abelha mellífera terá como origem o continente africano (Honey Bee Genome Sequencing Consortium 2006),
sendo de África que terão surgido as primeiras abelhas no Mundo.
Durante a idade do gelo as abelhas foram completamente erradicadas
de grande parte da Europa, tendo ficado a sua população restrita à Península Ibérica e África.
Há 10.000 anos, após terminar a ultima glaciação, as abelhas
começaram novamente a colonizar a Europa e médio oriente. Estas movimentações,
junto com distintas barreiras físicas e condições edafo-climáticas ímpares de
cada zona colonizada, deu origem a abelhas com distintas características
morfológicas e genéticas, às quais chamamos de raças, que no fundo são
subespécies.
Esta divisão deu origem a diferentes grupos ou linhagens de
abelhas. Temos a linhagem M, presente na Europa Ocidental, que engloba a Apis mellífera iberiensis e mellífera mellífera, a linhagem C, na
Europa Oriental, que engloba a Apis
mellífera carnica, ligustica, macedonica, cecropia, sicula e ruttneri. Além destes principais grupos
temos ainda a linhagem O no médio Oriente, de onde provém a Apis mellifera anatoliaca, syriaca, caucasica, armenica, etc, etc e
por último a linhagem A, que engloba todas as subespécies Africanas.
Como se verifica nas imagens anteriores, gentilmente cedidas
pela Dra. Alice Pinto da Escola Superior Agrária de Bragança, as diferenças
entre raças são claras ao nível genético.
Através da estrutura do genoma é possível separar as
diferentes subespécies, a sua proximidade, ecotipos, etc.
A título de exemplo, no K=5 podemos verificar que a raça
ibérica se separa da mellífera mellífera,
classificando as mesmas como subespécies, contudo, como é óbvio existe
alguma proximidade entre elas, pois partilharam uma história no passado.
Quanto á ligustica
e carnica, é incrível a proximidade
genética que têm umas das outras, pois em K=6 o programa ainda as mantém
juntas, sem qualquer distinção, comprovando uma grande proximidade e recente história
entre elas.
Da mesma forma, podemos verificar a distância a que se
encontra a abelha ibérica da ligustica e carnica, pois em K=3, as mesmas são
logo separadas, comprovando as diferenças genéticas destas duas linhagens.
Com estas imagens não se pretende provar que existem
diferentes raças de abelhas, pois julgo que é um assunto do conhecimento geral
de todos, apenas demonstrar que existem realmente diferenças genéticas que nos
permitem classificar diferentes linhagens de abelhas.
Apesar de tudo, se alguém quiser assumir que não existem
raças, então podemos falar apenas em subespécies adaptadas a diferentes regiões
europeias, com características morfológicas e genéticas totalmente distintas
umas das outras, fruto da sua estreita relação com as condições ambientais que
as moldaram ao longo de milhares de anos.
Conservação da abelha
Ibérica
A conservação da abelha ibérica, pode ser vista como o
futuro, algo inevitável ou apenas como um sonho de alguns criadores de rainhas
ou naturalistas retrogradas, contudo, devemos olhar um pouco mais acima no horizonte
e ver a conservação das diferentes subespécies de abelhas como um “seguro” a
longo prazo, pois no dia de hoje não sabemos o que podemos precisar no dia de
amanhã.
A conservação das raças autóctones é a única forma de
podermos garantir diversidade genética, factor essencial à adaptação das
abelhas a condições ambientais distintas no futuro, ou até mesmo doenças.
Antes do aparecimento da varroa, ninguém podia imaginar os
mecanismos de resistência das abelhas descobertos até hoje. A diversidade genética
nas abelhas, é no fundo uma fonte inesgotável de características desconhecidas
que podem ser usadas em melhoramentos futuros, como resistência a doenças,
produtividade, sobrevivência a condições ambientais adversas, etc, etc.
Melhoramento do desempenho
da abelha ibérica
Os apicultores em geral devem começar a preocupar-se em
melhorar as abelhas que têm, pois não é necessário ser Doutor, engenheiro ou
especialista em genética para podermos dar no nosso contributo na melhoria
genética da raça autóctone que mantemos.
É importante demostrar que a melhoria genética das abelhas autóctones
pode ser alcançada por qualquer um, sendo uma alternativa à compra de abelhas
de outras raças, que possuam determinadas características desejadas.
É tempo de assumirmos uma posição de esforço na melhoria das
características da nossa abelha autóctone, melhorando as suas qualidades que
estão devidamente adaptadas ao nosso país.
Se cada vez mais apicultores escolherem o caminho de dar o
seu contributo no melhoramento da raça autóctone, de melhorar aquilo que têm, o
futuro será risonho a médio/longo prazo.
Os benefícios da melhoria genética das abelhas autóctones
estendem-se muito mais além da produção de mel. A abelha, sendo um animal selvagem,
precisa de ser sustentável ao ponto de conseguir sobreviver e resistir
facilmente às condições ambientais onde vive, especialmente sem a acção e
dependência humana. Esta sustentabilidade só é possível de alcançar se
trabalharmos com as abelhas nativas.
É mais fácil trabalhar a favor das forças da natureza, do que
contra elas… como é o caso de introduzir uma nova raça “à força”, num país com
a sua própria raça nativa.
A seleção das abelhas passa apenas por manter ou melhorar a sua
qualidade, em relação às características que desejamos.
Qualidades produtivas/gerais
da abelha ibérica
Quando falamos em qualidades ou até mesmo defeitos da nossa
abelha, deveremos saber distinguir os que estão directamente relacionados com a
capacidade produtiva, pois de nada serve ter uma abelha mansa ou calma no
quadro se a mesma não produzir mel. Daí, ser bastante importante saber
distinguir o que pretendemos.
Talvez porque nunca tenhamos conhecido outra abelha, muitos
de nós só nos conseguimos focar nos defeitos que a nossa abelha tem, sendo que
as qualidades, o facto de serem tão normais, nunca olha-mos verdadeiramente
para elas como algo de extrema importância. Qualidades que não se encontram nas
restantes subespécies, pelo menos ao nível de se poderem identificar como uma
característica dessas raças.
Como já foi referido, a abelha ibérica ocupa o nosso país há
milhares de anos, tendo sobrevivido a condições muito difíceis, onde apenas os
indivíduos mais resistentes e adaptados sobreviveram.
A nossa abelha encontra-se perfeitamente adaptada ao clima e
florações portuguesas, e no momento em que, em alguns anos damos tudo como
perdido, ela surpreende-nos e salva a época, ao produzir ainda uma ou duas
alças de mel.
Antes de falarmos nas boas e más características da abelha
ibérica, é importante salientar que existem diversos tipos de características,
que independentemente de gostarmos delas ou não, as mesmas em nada contribuem
para que as colónias sejam boas produtoras, uma vez que esta é uma das
principais qualidades que os apicultores procuram. Ter abelhas boas produtoras
de mel e pólen.
Analisando a abelha ibérica a fundo, são algumas as más
características que lhes podemos atribuir, contudo, são tudo características
secundárias, sendo apenas a propensão para enxamear a única má característica
que lhe podemos atribuir ao nível de características produtivas.
Boas características
1ª - Capacidade de
crescer rapidamente no início da primavera, a partir de uma população baixa de indivíduos;
Já todos devem ter presenciado no início da primavera, que apesar
das colmeias se encontrarem com poucas abelhas, de uma semana para a outra as
colmeias “explodem”. Esta explosão apesar de estar relacionada com o nascimento
de abelhas novas, é impressionante como uma baixa população de abelhas consegue
tomar conta de tanta criação, ao ponto de permitir um rápido desenvolvimento
das mesmas, numa altura em que a floração ainda está para a começar. Além disso
é uma prova de que a rainha sente o momento correto de iniciar a postura.
Apesar de ser uma característica parecida à da abelha Carnica,
o “Padre Adam” faz questão de sublinhar esta característica “explosiva” das
abelhas negras ocidentais e do norte de Africa (Ibérica, melífera melífera e intermissa), como sendo única em todas
as raças que teve oportunidade de testar, e que nem comparável é à da abelha
cárnica, pois o desenvolvimento da cárnica é já numa altura mais favorável em
termos de condições externas.
2ª – Excelente capacidade
de puxar ceras rapidamente e com perfeição;
Associada à “explosão” da primeira característica descrita,
temos a mestria em puxar ceras rapidamente com bastante perfeição, onde de um
momento para o outro temos os ninhos cheios de vários quadros com cera acabada
de puxar, lindos e perfeitos, onde além disso já existe postura da rainha na
maioria deles.
3ª – Boa produtora de
mel;
A abelha ibérica é uma boa produtora de mel, sendo o seu pro
médio bastante interessante em anos bons. Se as rainhas forem novas, não é
admiração nenhuma encontrar colónias que produzem entre 30 a 70 kg de mel, obviamente
que não são todas, mas vão aparecendo. Contudo o que interessa é a média e essa
é muito difícil de estabelecer, devido à irregularidade que os anos têm tido,
bem como o tipo de maneio que damos às colmeias, se as ceras estão puxadas ou
não, se as rainhas são novas ou não, etc.
Os enxames novos costumam dar uma a duas alças de mel no
rosmaninho e 2 a 4 alças em transumância, isto em condições normais, e claro
que existem sempre colmeias que não produzem nada, pois se temos as colmeias
fracas com varroa e passaram mal o Inverno a realidade produtiva é outra.
Mesmo assim, no final da época, até as colmeias mais fracas
acabam por vezes em produzir uma alça de mel.
Segundo o maneio que fazemos às nossas colmeias, na região
onde nos encontramos (Castelo Branco), com ceras puxadas, posso assumir uma
média de 18Kg de mel por floração em anos normais. 5 a 8Kg em anos maus e 25Kg
de mel em anos bons.
Outra situação que devemos destacar, são os anos que vêm
maus, estamos desesperados e as abelhas em apenas uma semana salvam a época,
pois elas sabem muito bem que ou dão tudo nessa semana, ou estará em risco a
sua sobrevivência nos meses seguintes.
Com isto podemos afirmar que estamos perante uma abelha boa
produtora de mel.
4ª – Excelente
produtora de pólen;
Esta é outra das excelentes características da raça ibérica,
tal como a explosão inicial de abelhas no início da época, a abelha ibérica, é
a melhor colectora de pólen que existe, sendo altamente voraz na sua procura e
colheita.
Inicialmente foi descrita como uma má característica, mas com
o passar do tempo, com a quantidade de informação que existe ao nível da
nutrição de abelhas é sem dúvida uma característica que lhe permite estar bem
nutrida e resistir às doenças, especialmente à nosema.
Na perspectiva de apicultor, apesar de não ser nada agradável
colher pólen nas alças de mel, para quem quer produzir pólen não existe melhor
raça que a nossa. Para os que prestam serviços de polinização, a mesma
situação, pois estamos perante uma raça extraordinária para prestar um bom
serviço aos clientes.
5ª – Boa produtora de
veneno de abelha;
Nem tudo é mau por possuirmos uma abelha mais nervosa que as
restantes, pois segundo a experiência de alguns colegas, é uma abelha que ataca
com mais facilidade e de forma mais forte o aparelho de coleta de veneno.
6ª – Eficiente
termoregulação do ninho;
Uma característica que está directamente relacionada com as
duas primeiras características atrás descritas, mas também pela sua resistência
a temperaturas extremas, sejam elas baixas ou altas.
Quanto às temperaturas baixas, não é nenhuma surpresa para as
abelhas em geral, contudo, em relação às altas temperaturas, onde muitas vezes
chegam a derreter as ceras que estão dentro do ninho, a nossa abelha está
perfeitamente adaptada e apesar de um grande esforço ela sobrevive ao calor
intenso que se faz sentir em algumas zonas do país, onde, além disso consegue
ainda produzir meladas, nestas regiões extremamente secas e quentes. Como é o
caso da região onde nos encontramos.
7ª – Junto com a mellífera mellífera é a abelha com o
corpo maior, em relação a outras subespécies.
Este tamanho permite-lhe ter um melhor metabolismo para
produção de calor, caso seja necessário.
8ª – É uma abelha que
quebra a postura sempre que não existam condições favoráveis no exterior;
Esta característica, é de extrema importância na
sustentabilidade das colónias, pois as abelhas caso não quebrem a postura, ao
possuírem sempre criação, vão consumindo as reservas que têm, até que acabam
por morrer de fome, ou enfraquecer a níveis irreversíveis.
É importantíssimo, que as abelhas sintam quando podem ou não
crescer, pois inclusivamente ao nível da apicultura, não nos podemos dar ao
luxo de perder tempo em monitorizar constantemente as colmeias para que não
morram de fome… e pior, gastar constantemente dinheiro em alimentação.
9ª – Uso eficiente das
reservas alimentares que tem durante os períodos de carência;
O facto de quebrar a postura e ter uma grande capacidade de
termoregulação, consegue manter a temperatura adequada no ninho, consumindo o
mínimo de reservas possível.
10ª – Resistência a
doenças;
Se fizermos análises a todas as colmeias em Portugal,
ficaríamos surpreendidos por encontrar esporos de nosema em quase todas elas e
inclusivamente loque americana e ascosferiose. Pois não é por acaso que quando
as colmeias sofrem de algum distúrbio, por exemplo de varroa, possam vir a
contrair outras doenças. Elas já lá estavam, contudo as abelhas têm-nas
controladas e não as deixam desenvolver.
Damos muito o exemplo de quando tivemos outras raças, especialmente
italiana e buckfast, apesar ser muito raro o surgimento de loque americana na
nossa exploração, a maioria das colónias das outras raças ficou infectada com
loque, quando as ibéricas ao lado estavam perfeitamente sãs. Se bem que as
buckfast este problema foi inferior em relação às italianas.
Nos países que têm como base o uso de abelhas italianas
(Ligustica), os problemas de loque americana são constantes, e, ou fazem
tratamentos preventivos com “Terramicina”, como é o caso dos USA, ou escondem a
todo o custo este problema, como é o caso da Itália, América do Sul, etc.
Em Portugal, existem já vários apicultores que conheceram a
loque americana através das experiências com a raça italiana e Buckfast,
contudo, quem as vende, especialmente as Buckfast diz que são resistentes a
todas as doenças.
Com a raça ibérica, apesar de sabermos que possam surgir
diversas doenças, normalmente está relacionado com um mau maneio por parte do
apicultor e não por questões genéticas.
Se fizermos testes higiénicos às nossas abelhas, geralmente
os níveis percentuais de limpeza dos alvéolos são bastante elevados, sempre
acima de 80%.
11ª – Um bom Poder de
voo;
A abelha ibérica é uma abelha que consegue voar mais longe na
coleta de néctar e pólen, em comparação com outras raças. Uma característica
que pode ser uma vantagem quando os recursos são limitados, pois o seu raio de
“pastoreio” é maior.
12ª – Grande
longevidade;
A abelha ibérica é uma
das raças em que as abelhas vivem mais tempo. O facto das abelhas viverem mais
tempo, permite que cada individuo contribua um pouco mais em todas as tarefas
que envolvem a sua comunidade, sendo bastante positivo na estabilidade da
mesma.
13ª – Apiteratia
forçada e gratuita;
Colocado apenas por brincadeira, mas é uma realidade. É raro
o dia que não somos picados, pois estamos perante uma abelha nervosa. Sendo
verdade o que dizem sobre os benefícios do veneno da abelha… também temos de
considerar esta característica como positiva!
Más características da
abelha ibérica
Nem tudo são rosas, e temos que assumir que a abelha ibérica
possui algumas características que para os apicultores mais exigentes e
especialmente os hobbistas, não são favoráveis, pois dificultam o seu maneio e
prazer em praticar esta actividade.
1ª –
Agressividade/Defensividade;
Como sabemos a nossa abelha ibérica é uma abelha nervosa e
ataca com muita facilidade. É uma abelha que pica facilmente.
Digamos que tem um grande instinto de autodefesa.
Os apicultores hobbistas preferem abelhas mansas, que lhe
permitam praticar uma apicultura de puro prazer e romantismo e inclusivamente
manter as colmeias junto a casas habitadas. Quanto aos profissionais, não é que
não gostem de abelhas mais calmas, mas é um aspecto secundário.
É uma característica que facilmente é contornada com o uso do
fumo, mas temos que assumir que deveria ser melhorada. Contudo, nunca ao ponto
das chamadas “abelhas burras”, que ficam paradas sem nada fazer, pois as
abelhas não podem perder a sua capacidade de autodefesa.
2ª – Comportamento
irrequieto nos quadros;
Esta é uma característica comum em algumas colónias. Quando
levantamos o quadro, ou as abelhas se movimentam por todo o lado ou voam.
Apesar disso, são muitas as que se encontram que possuem um comportamento
calmo.
É uma característica que pode prejudicar o maneio, caso
estejamos à procura da rainha.
3ª – Enxameação;
Esta é sem dúvida a única característica má da abelha
ibérica, que nos deve preocupar a nós apicultores, que temos como objectivo ter
abelhas vivas e saudáveis em plena produção.
Sabemos que é a forma de reprodução das abelhas, tal como
ocorre em qualquer outro ser vivo, contudo, esta característica reprodutiva
vincada, baixa a nossa produção média de mel, caso nada façamos ao nível do maneio.
É talvez a característica que nos rouba mais tempo durante a
época de produção, provocando um esgotamento completo ao apicultor, caso
estejamos dedicados a 100% à produção de mel e empenhados em produzir o máximo possível.
É uma característica que pode ser facilmente resolvida com a
introdução anual de rainhas novas, pois pela experiência que temos, são poucas
as rainhas novas que enxameiam, e quando enxameiam é por mau maneio do
apicultor ou anos excepcionais, como o caso de 2016.
É uma característica produtiva que a meu ver é a principal
que nós criadores de rainhas nos deveríamos focar, pois seria uma grande ajuda
ao apicultor.
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Do nosso ponto de vista, foram enumeradas as principais
características da abelha ibérica, estando certo que quem tenha muita
experiência com esta raça e alguma confidência com as estas abelhas concordará
que a abelha ibérica tem mais pontos positivos do que negativos e que o facto
de ser enxameadora e picadora não é motivo para radicalismos ao ponto de desejarmos
substituir esta raça por outra.
"Selecção prática da Abelha Ibérica"
Uma vez que a selecção natural não selecciona unicamente as características
produtivas, temos de ser nós humanos a contribuir para esse objectivo.
Ao contrário dos restantes programas de selecção usados para
outras espécies animais, que são controlados na totalidade pelos criadores, no
caso das abelhas, a fecundação das rainhas ocorre fora das colmeias, em zonas
de congregação de zangões, dificultando a tarefa de selecção, a não ser que se
recorra à inseminação artificial ou estações de fecundação.
A outra diferença está assente na poligamia das rainhas. As
rainhas virgens podem fecundar-se com 5 a 30 machos, provocando que dentro da
mesma colmeia, apesar da mãe ser a mesma, existem abelhas filhas do mesmo pai,
ou de pais distintos. Na realidade existem grupos de irmãs filhas de pais
distintos.
A conjugação destes grupos de irmãs pode definir a qualidade
ou não de uma colónia em relação a determinada característica, pois podemos ter
uma rainha de boa qualidade genética e produzir filhas de má qualidade, como
podemos ter rainhas de má qualidade genética e produzir filhas de grande
qualidade. É um assunto complexo.
De forma geral, necessitamos abelhas produtivas, resistentes
a doenças e bem adaptadas ao nosso território, sendo o comportamento defensivo
(agressividade) pouco importante, daí, que na apicultura profissional ibérica,
esta ultima característica tenha sido sempre desvalorizada, se bem que todos
são da opinião que se tivéssemos uma abelha mais mansa o maneio seria mais
fácil.
Tamanho da população de
abelhas ibéricas em Portugal
Em condições normais as abelhas obreiras não participam na
propagação dos genes, sendo a sua transmissão assegurada apenas pelas rainhas e
zangões, que são bem menos numerosos.
A população de abelhas é calculada através do numero de
rainhas e da quantidade média de zangões com que ela de cruzou.
Uma vez que as rainhas são diplóides e os machos haploides
quer dizer que as rainhas têm duas cópias de cada gene e os zangões apenas uma.
Assumindo que em média cada rainha se cruza com 15 machos,
teremos então 17 cópias de cada gene por colónia.
Só através desta singularidade poderemos calcular através de
uma fórmula o tamanho real de uma população de abelhas.
Fórmula: 1/Ne = 4/9 Nf
+ 2/9Nm, onde Nf é o número de
rainhas e Nm a média de machos que
fecundaram as rainhas.
Através desta fórmula, assumindo que temos 100 colónias com
rainhas e 1500 machos (15 de média), o tamanho da população é de apenas 218 individuos.
Quanto maior for a população, menor serão as hipóteses de se
perder diversidade genética, seja pela introgressão de outras raças, doenças,
etc.
Felizmente 99% da população de abelhas em Portugal são
autóctones, havendo boas perspectivas futuras para a raça ibérica.
Regiões puras para melhoria
genética
A ideia seria fazer o que já se fez noutros países, que
basicamente seria criar regiões puras com abelhas seleccionadas, onde todas as
colónias existentes numa determinada região teriam rainhas provenientes de um
programa de selecção genética.
O objectivo passaria por fornecer rainhas seleccionadas a
todos os apicultores existentes num raio de pelo menos 20Km de zonas de
fecundação, sendo que essas rainhas seriam introduzidas com o apoio de técnicos
apícolas. Desta forma assegurávamos que a maioria dos machos que fecundassem as
rainhas tivessem uma boa proveniência genética.
Os apicultores teriam direito a rainhas de qualidade
gratuitamente e em contrapartida, dariam o seu contributo para a melhoria
genética das abelhas autóctones.
Pode parecer algo complicado de implementar, mas em algumas
regiões do país seria possível.
Na impossibilidade de conseguir regiões puras, a saturação da
zona de fecundação com machos seleccionados, pode ser outra opção bastante
válida, sendo que neste caso é aconselhável ter 15 a 20.000 machos seleccionados
por cada 100 rainhas virgens.
Outras hipóteses seriam possíveis, mas neste tipo de
situações, devemos ser práticos, descomplicando ao máximo este processo.
Inseminação Artificial
Quando o controle das fecundações naturais não é possível, a
inseminação artificial (IA) é a técnica mais segura de garantirmos o cruzamento
entre os indivíduos que possuem as características que desejamos.
Rainhas filhas de colónias seleccionadas, podem ser
facilmente inseminadas com esperma de machos de outras colónias com
determinadas características que desejamos cruzar.
A IA, é a forma mais simples e segura quando necessitamos
garantir que os cruzamentos foram realmente efetuados entre as colónias
desejadas, ou seja, saber quem é realmente o pai e a mãe, sendo essencial no
sucesso de programas de selecção genética de abelhas.
Também é uma forma segura de garantir que as rainhas foram
bem “fecundadas”, pois por vezes, nas estações de fecundação estamos sujeitos à
meteorologia adversa, reduzindo consideravelmente o sucesso e qualidade da
fecundação.
Esta técnica, permite-nos também, alcançar objectivos que
seriam muito difíceis ou impossíveis em estações de fecundação, como é o caso
de obter distintos cruzamentos, fazendo diferentes experiências, contornando as
dificuldades em ter várias estações, cada uma com o seu tipo de machos.
PROTOCOLO DO TESTE DE
DESEMPENHO SMARTBEE
Trata-se de um
consórcio entre diversas instituições europeias, contudo gerido por um Centro
de investigação Apícola Alemão.
OBJETIVOS:
- Preservar a diversidade natural da abelha melífera;
- Melhorar o desempenho e a vitalidade da abelha melífera;
- Reduzir a perca de colónias e a dependência de tratamentos
terapêuticos;
O projecto SMARTBEE, está a apoiar actividades de criação de
rainhas locais para todas as subespécies europeias, com especial enfâse aquelas
que têm sido negligenciadas, como é o caso da abelha ibérica.
Estão a ser implementadas no terreno as técnicas mais actuais
para testar o desempenho, identificar características de resistência, avaliar
dados e estabelecer um programa de maneio adequado.
CICLO DO PROGRAMA
O SMARTBEES está focado na identificação, criação e
propagação de abelhas localmente adaptadas e com elevado desempenho e
características de resistência à varroa destructor.
A metodologia usada por este protocolo é usada há mais de 20
anos na Alemanha, com resultados muito bons ao nível da melhoria do desempenho
das colónias nas gerações seguintes.
O apicultor é o responsável pela gestão do seu apiário teste,
implementação de desempenho e produção de rainhas para testar.
Resumindo o programa, cada apicultor tem um apiário teste,
montado segundo um protocolo, onde possui no mínimo 3 grupos de rainhas
distintas, sendo que cada grupo de rainhas são irmãs.
Na realidade, cada um destes grupos de rainhas irmãs tem
proveniência de outros apicultores, tendo havido uma troca de rainhas, a fim de
permitir que cada grupo, seja testado em condições distintas no nosso
território.
Cada uma das colónias é marcada, a fim de poder ser possível
monitoriza-la ao longo do tempo.
As colónias para introdução destas rainhas são todas
preparadas por todos os apicultores segundo a mesma metodologia.
TESTE DE DESEMPENHO
O teste de desempenho é um procedimento para a avaliação das
rainhas relativamente a determinadas características de interesse, nomeadamente
a resistência à varroa, havendo pelo menos 3 avaliações anuais e um
acompanhamento mensal da varroa.
CARACTERISTICAS
TESTADAS
Características
|
Metodologia
|
Valor unitário
|
Frequência
|
Desenvolvimento
da colónia
|
Nº
de Quadros com abelhas e criação
|
Nº
de Quadros
|
Censos de Outono, primavera e verão
|
Comportamento
defensivo
|
1=
Agressiva;
|
Pontuação de 1 a 4
|
Censos de Outono, primavera e verão
|
2=
Pouco agressiva;
|
|||
3=
Dócil;
|
|||
4=
Muito dócil;
|
|||
Calma (Comportamento da abelha no
quadros)
|
1=
Abelhas abandonam os quadros;
|
Pontuação de 1 a 4
|
Censos de Outono, primavera e verão
|
2=
Abelhas agrupam-se na beira dos quadros;
|
|||
3=
Abelhas movem-se no quadro;
|
|||
4=
Abelhas calmas e estáticas;
|
|||
Comportamento de enxameação
|
1=
Forte tendência de enxameação;
|
Pontuação de 1 a 4
|
Época de enxameação
|
2=
Moderada tendência de enxameação;
|
|||
3=
Ligeira tendência de enxameação;
|
|||
4=
Não há tendência de enxameação;
|
|||
Produtividade
de Mel
|
Peso
liquido de mel extraido
|
Kg
|
No
momento da cresta
|
Mortalidade
natural de varroa
|
Utilização
de estrado sanitário
|
Nº
de varroas caídas por dia
|
Durante
duas a 3 semanas na primavera
|
Nível
de infestação da colónia
|
Açucar
em pó (50g de abelhas)
|
%
Abelhas infestadas
|
Mensalmente
de Junho ao Outono
|
Comportamento
higiénico
|
Teste
de alfinete ou congelação da criação
|
%
de remoção da criação
|
Pelo
menos duas vezes por estação
|
A descrição detalhada dos métodos de avaliação das
características e parâmetros acima mencionados está disponível em www.smartbees-fp7.eu/extension.
É altamente recomendado que as avaliações do teste de
desempenho sejam feitas de forma uniforme.
REGISTO DOS DADOS
Os dados são fornecidos, neste caso à coordenadora nacional
(Dra. Alice Pinto), sendo os dados introduzidos na base de dados usada a nível
internacional www.beebreed.eu.
ESTIMAÇÃO DOS VALORES
REPRODUTIVOS E SELEÇÃO DE RAINHAS
A estimação rigorosa dos valores reprodutivos das rinhas
(valor genético para fins de melhoramento), só pode ser obtida a partir de
dados recolhidos em testes de desempenho padronizados.
Adicionalmente, a estimação inclui informação do pedigree da
rainha e dados de desempenho ancestrais e indivíduos geneticamente
relacionados, O registo e a lista ordenada das rainhas testadas ficam
disponíveis e visíveis para todos os criadores de rainhas e apicultores.
CONTROLO DA FECUNDAÇÃO
A rápida disseminação do progresso da selecção pode ser
conseguida através da inseminação artificial ou através de estações de
fecundação, se bem que esta última é mais difícil em Portugal.
Coordenação Nacional
Dra. Alice Pinto
Escola Superior Agrária
de Bragança
"USO OU INTRODUÇÃO DE
OUTRAS RAÇAS"
O século XX foi dominado pela introdução de raças de abelhas,
que diziam ser de casta superior, raças que provinham de vários pontos da
Europa.
Esta prática, desvalorizou a importância da adaptação das
abelhas nativas ao seu território, bem como a conservação da diversidade
genética. Como consequência, temos algumas subespécies de abelhas que podem
ficar extintas em alguns pontos da europa. Felizmente não é o caso da abelha
autóctone portuguesa, pelo menos por enquanto, mas o que é certo é que existem
subespécies europeias em risco de se perder.
Devido à sua biologia reprodutiva, a abelha é o único animal
do sector pecuário que o Homem mantém, mas, a mesma continua a partilhar o seu
pool genético com populações selvagens ou vizinhas, pois a rainha quando sai
para se fecundar, vai encontrar-se em zonas de congregação de zangões com um
raio superior a 10Km de distância.
Esta peculariedade permite que haja um intercâmbio de genes
entre diferentes populações, sejam elas puras ou não, sendo muito difícil
controlar a introgressão de genes de outras raças na população de abelhas
nativas.
A introdução de outras raças, especialmente as provenientes
de outras linhagens, pode trazer consigo “alelos” (genes) inexistentes na
população nativa, modificando o seu perfil genético. Segundo os estudos, os
alelos raros são os primeiros a desaparecer, onde apesar de raros não quer
dizer que sejam inúteis.
O que nos reserva o Futuro? Ninguém sabe… mas analisando o
“presente”, o futuro vai ser difícil.
Não é por acaso que quando temos algum problema em alguns dos
nossos apiários, temos sempre colmeias que se mantêm fortes e vigorosas, as
razões podem ser várias, mas uma das possíveis justificações poderá ser as
características genéticas dessas abelhas.
Na apicultura profissional do século XXI, começa a deixar-se
de “importar” desmesuradamente subespécies puras e em vez disso, está-se neste
momento a seleccionar as abelhas melhor adaptadas ao território, pois já se
gastaram as hipóteses e tentativas todas em busca da abelha perfeita, sendo que
neste momento, em alguns países, apenas lhes sobra uma verdadeira salada russa
que tentam seleccionar, ou em vez disso, recuperar a espécie nativa, no caso
dos países que a tenham.
Grandes movimentos de apicultores surgem neste momento por
toda a Europa, desde Inglaterra, Irlanda, Alemanha, França, entre outros, com o
objectivo de recuperar e seleccionar as subespécies nativas.
Até mesmo na Alemanha, país que abraçou um programa de
conversão da sua abelha negra pela abelha cárnica, está neste momento a dar
grandes passos na recuperação da subespécie nativa, havendo inclusive
arrependimento de muitos que lideraram o programa.
Começa também a surgir em alguns países a venda de mel
produzido por abelhas nativas, numa tentativa de valorizar e proteger as
subespécies autóctones.
A apicultura profissional do século XXI, passou neste momento
a dar um extremo valor e importância à selecção das abelhas melhor adaptadas ao
seu território.
O habitat natural da Apis
mellífera cobre uma enorme distância entre a África do Sul, Oriente e o
norte da Europa, onde podemos encontrar diferentes zonas com características
Edafo-climáticas distintas, daí as diferentes subsespécies possuírem diferentes
características, seja morfológicas ou genéticas, sendo o fruto da sua adaptação
ao longo de milhares de anos a esse território.
Comprar uma rainha de alta casta na Alemanha e vender filhas
em Portugal ou noutros países com distintas condições edafo-climáticas é algo
que pertence ao passado.
Não podemos controlar o “clima”, mas podemos controlar as
abelhas que já estão devidamente adaptadas a ele. A abelha ibérica está
completamente adaptada ou clima do nosso país, que em muitas regiões, são de
extremos.
Mesmo que a preferência não seja a raça nativa, as abelhas de
outras raças, devem ser antes de tudo testadas e seleccionadas no território
onde irão produzir, pois o mais comum é importarem-se raças de outros países e
começar-se imediatamente a vender filhas, pois se a rainha custou 350 euros,
tem de ser TOP! Além do mais, o investimento tem de ser recuperado e acima de
tudo rentabilizado.
Esta é a realidade que se vive, pois existe um mercado de
rainhas importadas muito tentador, sendo fácil seduzir os apicultores com
rainhas filhas de matrizes que dizem ser excepcionais, havendo uma tendência
para acreditar que “a erva é mais verde do outro lado da cerca”, ou seja, que
as rainhas importadas são superiores às abelhas nativas.
Este sistema de compra de abelhas de outras raças, não
permite que as mesmas se adaptem ao território onde produzem, sendo um sistema
viciado, que obriga a dependência externa, pois existe um mercado comercial
muito forte de venda destas rainhas, sejam elas a ligustica, carnica ou até
mesmo buckfast que é a mais cara, apenas porque está directamente relacionada
com um grupo elitista de apicultores hobbistas.
Os apicultores são muitas vezes tentados a comprar rainhas de
outras raças, pela sua mansidão e natureza prolífica, contudo, estas abelhas
introduzidas não foram melhoradas nem testadas no nosso país, sendo que esta
docilidade é perdida nas gerações seguintes quando se cruzam com a raça local.
Quanto à extrema agressividade que estas colónias atingem nas
gerações seguintes, os criadores culpam sempre os zangões nativos, mas na
realidade o mau comportamento e algumas más características, resulta do
cruzamento híbrido entre duas subespécies distintas, seja ao nível morfológico
como genético.
Quanto à elevada prolificidade, em boas condições, quando o
ano vem bom, estas colónias podem atingir dimensões impressionantes, que além
de um difícil maneio, caso as condições meteorológicas sejam adversas, resulta
no consumo de grandes reservas, morrendo rapidamente de fome. São colónias que
requerem mais tempo de maneio e inspecções sucessivas, para não corrermos o
risco de morrerem, sendo também colónias que obrigam a um maior gasto com
alimentação, pois geralmente as rainhas não param a postura, ou põem mais ovos do
que deveriam, estando as colónias sempre no seu limite a nível de reservas,
pois é comum encontrarmos os quadros secos em algumas alturas do ano.
Quando se compram abelhas de outras raças, normalmente nunca
sabemos a forma como foram criadas e seleccionadas, restando-nos o marketing
via redes sociais ou website dos criadores, sendo que na maioria das vezes,
estas abelhas têm proveniência de zonas muito mais pobres ao nível de “flora”,
pois ao contrário do resto da europa, a península ibérica apresenta a maior
diversidade de plantas e flores a nível europeu. Quanto às condições
meteorológicas a que estão adaptadas também são totalmente distintas.
E se houver percas, perfeito, pois quer dizer que vão comprar
mais rainhas, caso contrário as gerações seguintes não serão nada agradáveis de
manusear.
A importação de rainhas de outras raças não passa neste
momento de um negócio, não havendo interesse que se melhorem as raças locais.
Não somos contra a venda ou uso de outras raças, até porque
quando nos perguntam a nossa opinião, a resposta é sempre a mesma…
“experimente”, pois já samos o resultado final.
O apicultor satisfaz esse desejo
de manusear uma colónia mansa com uma rainha amarela, mas rapidamente se
apercebe que na sua exploração essas abelhas não darão resultado, pois assim
que essas colónias substituem a rainha ou a rainha morre… começam os problemas,
especialmente ao nível da defensividade (agressividade), que chega a ser
extrema.
Outra situação, é a compra de quantidades impressionantes de
rainhas na América do Sul e das poucas que sobrevivem à introdução nas colónias
de abelhas nativas, muitas ficam paradas e não desenvolvem. Claro que quando a
primavera arranca no seu pleno, havendo “fartura”, as colónias reagem bem e até
têm produções bastante boas, contudo, quando chega o Verão e depois o Inverno,
ou se apanham um ano mau, tudo se complica. Digamos que as colónias parecem
autênticas concertinas, com muitos altos e baixos.
Em anos bons todas as raças são boas, mas o que importa é conseguir manter os efectivos sem grandes percas em anos maus e até mesmo produzir... mas no caso de outras raças em Portugal, que é normal haver baixas prestações e grandes percas, existem sempre desculpas... que por interesse nunca são atribuídas à raça da abelha...
Não fossem as abelhas ibéricas a produzir o mel de alguns apicultores defensores de outras raças, seria a ruína dos mesmos!
Apesar da nossa exploração ser de criação de rainhas, nunca
vendemos rainhas de outras raças (a não ser 4 virgens buckfast a um cliente
teimoso), pois nunca verificamos que as raças e linhas que possuímos fossem
dignas de ser reproduzidas e comercializadas, pois o facto de serem mansas e
algumas produzirem um pouco acima da média, estas duas características, não
suficientes para lhes atribuir valor.
E o facto de haver uma ou outra que tenha obtido produções
excepcionais… essa produção não está directamente relacionada com as suas
características genéticas produtivas, mas sim por ser uma boa ladra.
É completamente errado julgar positivamente uma raça de abelhas, única e exclusivamente por ter havido uma minoria de colmeias a obter boas produções.
Já o Padre Adam dizia “Da minha experiência, as colónias que se
destacam isoladamente como melhor produtoras de mel, são as primeiras a roubar.
As minhas observações, levam-me a acreditar que estas duas características
estão interligadas”.
Importamos rainhas de Itália, França, Alemanha, Dinamarca e
Eslovénia, entre Ligusticas, Buckfast, Caucasicas e Cárnicas, algumas de
distintos criadores a preços bastante elevados e podemos dizer que apesar de
termos tido muito prazer em trabalhar com abelhas mansas, não tivemos uma única
colónia pura que nos impressionasse, pois o facto de possuirmos um grande
efectivo de colmeias ibéricas e sermos bastante sensíveis a estas questões,
nunca nenhuma superou as nossas melhores colónias de ibéricas.
Quando falamos em melhores, falamos ao nível das
características produtivas, um forte arranque de primavera com ceras puxadas no
“cedo”, ainda com uma baixa população, grande vigor, produção rápida de mel,
resposta positiva após transumância, bem como uma boa “segunda” ou mesmo
“terceira” produção, como foi o caso do ano de 2016.
Quem quer experimentar abelhas de outras raças, terá de as
comprar a um criador que lhes garanta que foram testadas e seleccionadas no
nosso país, uma selecção que desconheçemos que exista em Portugal, até porque, atrevemo-nos
a dizer que é quase impossível no nosso território.
O resultado das introduções de outras raças é sempre o mesmo…
muitas morrem durante a introdução, umas não desenvolvem… outras vão mais ou
menos… uma ou outra é boa, tentamos outra linha de outro criador… até correu
bem pois o ano veio bom… no ano seguinte volta a não funcionar… experimentamos
outra raça… não funciona… experimentamos outra linha de outro criador… e a
história repete-se, os anos passam, e quando já deveríamos estar focados a
produzir ou com outros objectivos na nossa exploração, ainda estamos a perder
tempo com algo tão básico, que é a raça de abelhas que irá servir de base na
nossa exploração.
Se fizermos uma média à vida útil de rainhas de outras raças, andará mais ou menos pelos 6 meses a 1 ano... isto se forem bem feitas as contas.
Recentemente, um grande criador de rainhas de outras raças,
conhecedor da raça ibérica e realidade portuguesa, tendo já vendido muitas
rainhas para Portugal disse-me:
“João, os
apicultores que tentarem a todo o custo converter as suas abelhas ibéricas por
outras de raças distintas, ou a sua exploração não cresce, pelo tempo perdido e
maus resultados, ou pior, vai à falência”.
Conheçemos pessoas que começaram com as abelhas italianas, agora
estão com as Buckfast, dentro de alguns anos, vão descobrir a Cárnicas, depois
uma linha resistente a qualquer coisa, cometendo o erro que muitos outros
cometeram em alguns países europeus como é o caso da França, que muitos apicultores
neste momento apenas se limitam a seleccionar o material que têm, ou tentam
converter novamente as suas colónias para a raça nativa. Uma realidade que
presenciamos em 2012, quando visitamos alguns apicultores profissionais nesse país,
inclusivamente Gilles Fert, que falou muito nesta mudança de atitude.
Como é óbvio, num país como o nosso, onde a apicultura faz
parte da nossa cultura, havendo colmeias, cortiços, enxames selvagens, onde
menos esperamos… as abelhas autóctones estão por todo o lado, sendo de todo
impossível seleccionar abelhas introduzidas, pois desde o momento que as
rainhas se cruzam com zangões nativos perdeu-se o controle e passamos ou a ter
“híbridos terminais” (cruzamento entre duas raças puras. Rainhas que só são
usadas uma vez), ou a ter os chamados pelo padre Adam “Mongrels”, abelhas de
cruzamentos desconhecidos, que são descartadas.
Apesar desta realidade, mais que comprovada cientificamente,
surgem indivíduos a vender abelhas híbridas, sendo uma perfeita aberração e
profundo desconhecimento das noções básicas da selecção genética, pois seleccionar
híbridos de cruzamentos desconhecidos, onde além disso, nem a existência de marcadores
genéticos é possível, não passa de um simples oportunismo do desconhecimento
destas questões pela grande maioria dos apicultores que compra essas abelhas, apenas pela sedução do slogan publicitário.
A selecção genética de abelhas é muito complexa, e neste caso
da introdução de raças num país onde existe uma abelha nativa dominante é de
todo uma “guerra perdida” para os apicultores profissionais que tentem a todo o
custo converter a sua exploração, pois nunca conseguirão vir a ter uma raça
estável e devidamente adaptada às condições do seu país.
Quando falamos em raça estável, falamos em ter abelhas que
mesmo que ocorra uma enxameação, substituição de rainha, etc, etc, as abelhas
descendentes manterem as mesmas características produtivas e comportamentais,
algo difícil de alcançar quando os cruzamentos com zangões nativos e de
proveniência desconhecida é o mais comum.
Numa exploração profissional não existe tempo para tomar
conta de situações desta natureza, pois na época de maior trabalho não podemos
andar preocupados em introduzir novamente uma rainha pura, ou “híbrida
terminal”, nas colónias que vamos identificando no campo… e até porque é um
custo extra que pesa no final do ano.
Quando terminamos de substituir rainhas numa ponta, temos de
começar novamente na outra, pois já houve novas substituições, morte natural ou
acidental de rainhas, enxameação, etc, etc, sendo uma luta constante manter
linhagens puras.
Claro que em países, como por exemplo no continente americano
ou Australiano, onde as abelhas foram introduzidas, sendo a abelha uma espécie
exótica, trabalhar com outras raças é totalmente distinto, pois começando pelo
facto de não existirem colónias nativas em qualquer canto, podem limitar-se a
seleccionar as que melhor se adaptam e produzem ano após ano.
É o caso do
Chile, onde estivemos recentemente e ao falarmos com um grande criador de
rainhas, nos transmitiu que lhes deu muito trabalho conseguir uma abelha que os
satisfizesse a todos os níveis, especialmente no que toca à adaptação ao
território Chileno onde reside, pois foi muito difícil estabilizar uma abelha
que “para-se” a postura nas épocas de carência, pois não podem andar a
alimentar constantemente, e pior, não existe tempo para monitorizar
constantemente as colónias para que não morram à fome nos períodos que não
existe floração.
Neste tipo de países a base genética principal é a Ligustica
(Italiana), sendo a abelha Carnica a segunda mais utilizada. Pertencendo estas
duas raças à mesma linhagem (C), torna tudo mais simples, pois estas duas raças
são geneticamente muito próximas, sendo fácil estabilizar determinadas
características quando selecionam em grande escala. A título de curiosidade, é
geneticamente mais próxima a Ligustica da Cárnica que a Ibérica da mellífera
mellífera.
Este criador com quem estivemos no Chile, tinha agora
importado algumas rainhas Buckfast da Europa e nem sequer lhes iam fazer
filhas, pois não se podiam dar ao luxo de estragar todo o trabalho que
desenvolveram ao longo dos últimos anos. Apenas as mantêm pois são extremamente
dóceis e dá jeito para a fotografia.
Alguns apicultores pertencentes à “Farandula Apícola”, estão
neste momento a vender Buckfast, sem moda em todo o Mundo, pois existe um mercado, sendo um negócio
rentável, contudo, quem é um verdadeiro apicultor profissional, conhecedor da
realidade, procura material genético adaptado e testado no terreno,
independentemente da sua raça preferencial.
Nós próprios, as primeiras colónias buckfast que tivemos,
morreram todas de fome, pois enquanto as ibéricas que pareciam mais “débeis”
sobreviveram, as buckfast que estavam fortes e lindíssimas… morreram… tudo
porque a rainha não cessou a postura e as reservas foram sendo consumidas até
ao limite. Uma semana de chuva e frio foi o suficiente!
Outra experiência que tivemos, que veio consolidar a defesa
da abelha ibérica, foi o facto de à 4 anos, após transumância de 600 colmeias para
o distrito da Guarda, deparamo-nos com a estagnação total de todas as colónias buckfast
que possuíamos, tanto F0 como F1. Enquanto as abelhas ibéricas explodiram, as
buckfast não gostaram de ser transumadas e apenas 2 ou 3 produziram mel. Houve
enxames novos ibéricos que além de enxerem o ninho fizeram meia alça de mel.
Desde esse ano que tomamos a decisão de dedicar-nos à abelha
ibérica.
Esta é a nossa opinião e experiência sobre o uso de outras
raças, opinião criada com a nossa experiência de campo, numa exploração verdadeiramente
profissional, que tudo faz para obter a maior rentabilidade possível das suas
abelhas. Se as raças que experimentamos fossem realmente boas, acreditem que
estariamos aqui a defendê-las… contudo temos que defender as abelhas que dão
sustentabilidade à nossa exploração e pagam as despesas e ordenados, que neste
caso é a abelha autóctone portuguesa, a abelha ibérica.
Por fim deixamos um recente estudo dos membros da associação
COLOSS.
ESTUDO: Members of the international honey bee research association
COLOSS
A total of 621 colonies of 16 different genetic origins were set up in
21 apiaries in 11 different European countries managed by 15 research partners.
Each location housed the local strain of bee together with two of “foreign”
origins. The colonies were set up in the summer of 2009 and were managed and
evaluated according to a standard protocol used by all participants until 2012.
IBRA Science Director Norman Carreck says: “The results of these experiments show that the locally adapted strains
of honey bee consistently performed better than the “foreign” strains. This may
seem logical to many bee scientists, but may come as something as a shock for
many beekeepers who believe that purchased queens are likely to be in some way
“better” than the bees that they already have in their own hives. There is
growing evidence of the adverse effects of the global trade in honey bees,
which has led to the spread of novel pests and diseases. These papers which
provide evidence that locally-adapted honey bee strains consistently perform
better than imported strains may thus strengthen local bee breeding programmes,
and encourage the use of locally bred queens over those imported from
elsewhere”
“Os resultados desta experiencia demonstram que as
linhas de abelhas locais, têm um melhor desempenho que as raças importadas.
Este resultado é lógico para qualquer cientista,
mas parece chocar alguns apicultores que acreditam que comprar rainhas de
outras raças seja melhor que manter as abelhas que já possuem nas suas
colmeias.
Este estudo que demonstra que as raças locais têm
um melhor desempenho que as raças importadas deveria dar força aos programas de
selecção e encorajar o uso de rainhas de raças locais.”
Norman Carreck
Para terminar, este ano conhecemos um Suiço que tem viajado
de bicicleta pela Europa a conhecer a realidade apícola dos países e de todos,
o que mais o satisfez foi Portugal, pois ficou bastante admirado pelo facto da
quase totalidade dos apicultores portugueses só usarem a raça autóctone.
Terminamos dizendo que não deixem de experimentar outras
raças, nem que seja para comprovarem que a abelha ibérica é uma boa abelha. E
antes dizerem bem de outras raças ou de criticarem a nossa abelha, façam-no
pelo conhecimento profundo que têm e não pelo que houvem falar, pelo que lêem.
João Tomé
…um apicultor pela apicultura…
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